Frase célebre

"De poucas partidas aprendi tanto como da maioria de minhas derrotas." (J. R. Capablanca, ex-campeão mundial)

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Um pouco da minha experiência pessoal – o início

Quando eu iniciei no xadrez, por volta dos treze anos de idade, no ano de 1994, jogava quase que diariamente, no horário do recreio do Colégio Amâncio Moro. Não tinha tabuleiro, nem jogo de peças. Então, um dos meus colegas, que também estava se iniciando, confeccionou um tabuleiro com as peças todas de papelão. E nesse tabuleiro nosso grupo inseparável jogou por um tempo, até que ganhei um jogo de xadrez Xalingo, aqueles com peças de plástico e tabuleiro de madeira, que quando se fecha forma um estojo para guardar as peças. Tenho ele até hoje. A partir daí, os outros colegas também conseguiram convencer seus pais a comprarem, até que todos tivessem o seu, em casa. Jogávamos sempre que podíamos, e passamos pela fase do “pastorzinho” também. Lembro que na época, a coisa que mais me chamou a atenção no xadrez, e me fez investir nele, foi a total ausência do fator sorte na definição do ganhador. Com uma personalidade um tanto egocêntrica, eu odiava perder, em qualquer tipo de jogo, quando o fator sorte era determinante. No xadrez, descobri que, se ganhei, mereci, e se perdi, posso procurar onde errei, pois certamente errei. No xadrez, ambos os jogadores começam com igualdade completa de forças, sendo que há apenas uma leve vantagem para as brancas devido ao lance inicial, proporcional ao nível dos adversários, sendo desprezível no nível iniciante. Em quase todos os demais jogos, como os de cartas, ou dados, não basta saber jogar, é preciso ter sorte, se é que ela existe. As vitórias nesses jogos dependem quase que completamente do acaso, sendo a habilidade do jogador um fator secundário para a vitória.

O fato marcante desse período para mim foi o meu primeiro torneio, o campeonato da escola, daquele ano. Apesar da pouca experiência, obtive o 2º lugar, perdendo apenas na final, para o enxadrista mais conhecido da escola na época. Creio que desse ponto em diante não havia mais volta. A partir daí, comecei a freqüentar os treinos de xadrez organizados pelo Prof. Gioni Mattei, no Colégio Duque de Caxias. Além de poder enfrentar adversários diferentes dos habituais, tive contato pela primeira vez com a notação enxadrística. Lembro que o nível dos novos adversários era equivalente ao meu, mas eles tinham como hábito anotar todas as suas partidas. Hábito este que eu também agreguei. E, por isso, tenho até hoje as minhas primeiras partidas anotadas, datadas de 1995. O fato de ter aprendido notação, e me dedicado a usá-la, foi responsável por uma evolução mais rápida do meu conhecimento do jogo. A domínio da notação enxadrística abre uma imensa porta de acesso a vasta literatura que existe sobre o xadrez. Então eu, que já era “devorador de livros”, passei a estudar os livros de xadrez, disponíveis na Biblioteca Municipal e na da escola. Existem livros para todos os níveis e para todos os aspectos e fases do jogo. Assim, passei um bom tempo estudando, e pondo em prática nas partidas o conhecimento adquirido. Percebi também que o hábito de anotar fazia com que eu levasse mais a sério cada partida. O fato de saber que aqueles lances iriam ficar registrados, me fazia refletir mais e jogar com menos displicência, ainda que continuasse a cometer muitos erros (o que faço até hoje…). Os registros me permitiam fazer uma análise post mortem em cada partida, descobrindo quais foram as falhas, os lances ignorados, as chances perdidas. Tenho guardadas algumas centenas de partidas anotadas, desde que comecei a jogar. Ainda hoje, de vem em quando, reproduzo algumas delas, o que me faz lembrar como era meu estilo, qual era o meu nível, quais conhecimentos eu não possuía na época em que foi jogada.

Por isso, focarei e cobrarei, alunos, para que anotem as suas partidas. Tenham um caderno ou pasta próprios para isso. As vantagens de se conhecer e usar a notação, como já mencionei, são muitas, mas vou repetir: 1 – Permite acesso ao conhecimento contido na literatura enxadrística; 2 – Jogamos com menos displicência quando estamos anotando; 3 – A anotação permite a análise pós-jogo, permitindo descobrir erros e lances omitidos, contribuindo fortemente para o desenvolvimento; 4 – Uma partida anotada é como uma fotografia, pois quando reproduzimos uma partida que jogamos há muitos anos, conseguimos ver como éramos e como pensávamos na época em que foi jogada.

Anotem, anotem, anotem, anotem e anotem.

Nenhum comentário:

Postar um comentário